Moinhos de Vento Surdos
Eu só. Estarei só lá em cima, no palco das vaidades acadêmicas, como já deveria estar habituado. Oferecerei meu corpo nu e frágil aos amendoins que a platéia estática e sonolenta estarão mastigando enquanto falo meu parco texto de quinze minutos. Eu devia estar acostumado.
Não sou mais uma criancinha lá dentro. Passou o tempo de ter medo da platéia semi-morta e da aprovação de meus maiores, passou o tempo de ter medo de minha incapacidade...
Já não me preocupo mais. Nem quero me preocupar com a expectativa dos meus amigos que não me assistirão, nem com os votos de confiança de meus colegas e o orgulho de meus mentores. Nem com o ódio ciumento dos marionetes da academia que execram o sucesso alheio, nem com a falta de um beijo e um abraço forte de boa sorte... Estou apático. Morto, feito a platéia de bonecos vazios e sem alma, comedores de números e fórmulas - eles JURAM que a literatura é feita de números e fórmulas!
Eu uma dia me imaginei como um cavaleiro lá dentro. De meus queridos professores recebi a segurança dum conhecimento que me são o elmo, a cota de malha, as grevas... meus amigos me forjaram um escudo mágico, resistente ao fogo dos piores dragões da inveja e aos martelos pesadÃssimos dos trolls sonolentos das colinas. Minha espada e minha lança, meu estandarte e minha paixão: lutarei com o conhecimento que busquei em terras distantes, que arranquei com sacrifÃcio da pedra e da bigorna, para batalhar sobre o estandarte de uma senhora nobilÃssima que escolhi, e que exige graves e ousados feitos, e martÃrios nem sempre bonitos de se ver.
Montaria então meu cavalo, beijaria minha amada e lhe juraria retornar vivo e vitorioso do campo de batalha. Resistiria às flechas e escaparia aos corvos e lobos carniceiros que infestam a academia, sedentos do sangue e da carne pútrida dos derrotados.
Lá vou eu. Quinta-feira, o primeiro debate do dia. Não é Falkirk, nem Alcácer-Quibir, nem o Pellenor. É o auditório do CAC mesmo, lugarzinho lúgubre para morrer.
Vou subir lá, e falar do maior dos cavaleiros que já viveu. Dom Quijote de la Mancha. Vou tentar mostrar a todos os espectadores que o Quijote são eles, que a ordem de cavalaria que ele quis ressuscitar, com sua lança e seu rocim e seu elmo de bacia de barbeiro, é a ordem do verdadeiro leitor. Unamuno pressentiu. Kafka entendeu... Cervantes o quis...
..E os filhos-da-puta infiéis e desorgasmados da platéia vão dormir!!! E os cornos acordados vão resmungar "porque ele não teoriza o Quixote? Cadê Osman Lins? Onde entra o Formalismo Russo nisso tudo? Todos sabem que, à luz do Estruturalismo, Quijote sobre Rocinante é igual a Cervantes fatorial vezes El Cid ao cubo sobre Amadis de Gaula!"... e eu terei lutado em vão, tentando professar a verdadeira fé do leitor, pela qual Dom Quixote foi seu mestre-templário, tentando mostrar que o leitor pode ir tão longe quanto ele foi, e que a literatura, a senhora de meu estandarte, só tem vida quando gozada... e eu sei lá qual foi a última vez que essa gente gozou... lendo Saussure, foi?
Farei meu dever. Morrerei sob o estandarte da senhora do prazer. Meus amigos me prestarão homenagem (se estiverem por perto), minha recolherá minhas armas (se ela existisse), minha mestra me saudará (se ela se lembrar)... não importa, eu estarei o tempo todo só.
Não sou mais uma criancinha lá dentro. Passou o tempo de ter medo da platéia semi-morta e da aprovação de meus maiores, passou o tempo de ter medo de minha incapacidade...
Já não me preocupo mais. Nem quero me preocupar com a expectativa dos meus amigos que não me assistirão, nem com os votos de confiança de meus colegas e o orgulho de meus mentores. Nem com o ódio ciumento dos marionetes da academia que execram o sucesso alheio, nem com a falta de um beijo e um abraço forte de boa sorte... Estou apático. Morto, feito a platéia de bonecos vazios e sem alma, comedores de números e fórmulas - eles JURAM que a literatura é feita de números e fórmulas!
Eu uma dia me imaginei como um cavaleiro lá dentro. De meus queridos professores recebi a segurança dum conhecimento que me são o elmo, a cota de malha, as grevas... meus amigos me forjaram um escudo mágico, resistente ao fogo dos piores dragões da inveja e aos martelos pesadÃssimos dos trolls sonolentos das colinas. Minha espada e minha lança, meu estandarte e minha paixão: lutarei com o conhecimento que busquei em terras distantes, que arranquei com sacrifÃcio da pedra e da bigorna, para batalhar sobre o estandarte de uma senhora nobilÃssima que escolhi, e que exige graves e ousados feitos, e martÃrios nem sempre bonitos de se ver.
Montaria então meu cavalo, beijaria minha amada e lhe juraria retornar vivo e vitorioso do campo de batalha. Resistiria às flechas e escaparia aos corvos e lobos carniceiros que infestam a academia, sedentos do sangue e da carne pútrida dos derrotados.
Lá vou eu. Quinta-feira, o primeiro debate do dia. Não é Falkirk, nem Alcácer-Quibir, nem o Pellenor. É o auditório do CAC mesmo, lugarzinho lúgubre para morrer.
Vou subir lá, e falar do maior dos cavaleiros que já viveu. Dom Quijote de la Mancha. Vou tentar mostrar a todos os espectadores que o Quijote são eles, que a ordem de cavalaria que ele quis ressuscitar, com sua lança e seu rocim e seu elmo de bacia de barbeiro, é a ordem do verdadeiro leitor. Unamuno pressentiu. Kafka entendeu... Cervantes o quis...
..E os filhos-da-puta infiéis e desorgasmados da platéia vão dormir!!! E os cornos acordados vão resmungar "porque ele não teoriza o Quixote? Cadê Osman Lins? Onde entra o Formalismo Russo nisso tudo? Todos sabem que, à luz do Estruturalismo, Quijote sobre Rocinante é igual a Cervantes fatorial vezes El Cid ao cubo sobre Amadis de Gaula!"... e eu terei lutado em vão, tentando professar a verdadeira fé do leitor, pela qual Dom Quixote foi seu mestre-templário, tentando mostrar que o leitor pode ir tão longe quanto ele foi, e que a literatura, a senhora de meu estandarte, só tem vida quando gozada... e eu sei lá qual foi a última vez que essa gente gozou... lendo Saussure, foi?
Farei meu dever. Morrerei sob o estandarte da senhora do prazer. Meus amigos me prestarão homenagem (se estiverem por perto), minha recolherá minhas armas (se ela existisse), minha mestra me saudará (se ela se lembrar)... não importa, eu estarei o tempo todo só.
5 Comments:
quinta? de manhã?
Dê mais detalhes, filho!
E deixa dessa besteira de estar só... :p
Olá!
Bem, realmente não li o post ( vou sair daqui a pouco), porém interessei-me pelo nome Piffardini. Estive atrás de pessoas com o mesmo sobrenome (no caso, quase o mesmo)
Bem, é isso. Beijos. =*
Eita..baixou a Sylvia Plath medieval no menino! Deixa de tua frescura...parecia que tinha sido designado para uma grande missao! kkkkkkkkkkkkkk Vc se saiu muito bem..parabens! Baixa o feuer! Oxe.
E nao se squeca das amigas nao viu..so por causa da Hello Kitty!
minino!
que frescura é essa?!
que negócio de "i'm so alone" é esse?
tu num sabe que é só "batê um fio" prá nóis?
:p
Bruno,
Que clima foi esse antes da sua magnifica apresentação! Bom naquele dia aprendi, bos lições contigo e quem sabe um dia desses tomo coragem para fazer uma apresentação! Quero ganhar um pouco mais de maturidade acadêmica para ter tal atitude! E como anda essa vida hein? E essa coisa de estar só, é uma fase, depois passa!! Espero que passe logo! logo! Porque gosto do Bruno Alto astral, apesar de saber que ninguém é de ferro!Se precisar pode contar com meus ouvidos viu!! beijos té mais!!!
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