O Uivo do Wookiee Acústico

"E aí, gatinha? Tá afim de conhecer um cara legal, cabeludo, herói das Guerras Clônicas, piloto da nave mais rápida da galáxia e amigo do Harrison Ford?" - Chewbacca, bêbado, cantando uma rodiana na cantina de Mos Eisley. Imagine um wookiee bêbado...

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Local: Mos Eisley, Tatooine

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Goin´ back home

Acho que já é hora de avisar meus distintos zero leitores do que de fato está pra acontecer...
Tô botando a mochila nas costas, velhinho. Vou pegar a estrada e voltar pra casa. O ventre sujo e frio de concreto e granito de minha terra-mater chama de volta seu filho pródigo, com voz rouca de sereia entre buzinaços e trovoadas. Vou voltar pra São Paulo!
Faz oito anos, já. Uma vez Ulisses me disse algo que realmente fez sentido (apesar de tudo, Ulisses costuma fazer sentido): a gente só define nossa terra-natal dos 14 aos 21 anos: esse é o tempo em que já moro em Recife. Talvez seja isso aí mesmo. Mas enfim, você tira o homem da selva, mas não a selva do homem. Acho que nunca escrevi nada que tivesse esse lugar aqui como cenário. Minha paisagem interna ainda são as nuvens carregadas de chuva e poluição, os^canyons de concreto vidro e aço e os rios estagnados de luzes à hora do rush. É o mesmo rios que corre nas minhas veias, e minhas sinapses ainda recebem as descargas elétricas de mesma intensidade que suas tempestades elétricas. Meu ouvido ainda ouve ao longe aquela música caótica, sinfonia dissonante de minha mãe. O brilho das folhas castanhas na São Vicente de Paula ao outono, os sinos da igreja de Santa Cecília, os três mil dialetos pelas ruas, o coreano da locadora, a professora de francês, a esfiha da esquina e os doces russos, a fonte da Praça Buenos Aires, os tucanos e os patos da �gua Branca, a banquinha da praça Vila Boim e o tamanduá atracado com um índio numa praça na rua das Palmeiras. O colégio Casa Pia e suas freiras doidas, os pivetes de canivete e os mendigos de minha rua, e os espetinhos de filé miau em cada esquina, mate com leite em todas as cantinas e o purê de batata no cachorro-quente, e o carro da pamonha: "pamonha fresquinha, pamonha de piracicaba... pamonha pamonha pamonha!". Os camelôs no Viaduto do Chá e o Anhangabaú, a Biblioteca Monteiro Lobato e o Mac Donald´s da avenida Angélica. Estrela de Santa Cecília, Esfiha Chic, Boi Legal, CIC vídeo, Japonesas, Esquina Grill, Colégio Fidelino Figueiro, Sé Supermercados, a Biroska, o Estravaganza, Clube Piratininga, Colégio Piratininga, West Plaza Shopping, Center Norte. Francesco, Kauê, Sumaia, Seu Luís, Seu Antônio, o senhor da banca que eu sempre gastava e o pessoal da vídeolocadora. O Torquato casou, a Gláucia tá uma delícia, Maria Teresa virou freira, o Anderson serviu o exército e eu virei um artista boêmio e irresponsável. Adoraria demais ver Daniela, e ela se lembra de mim? Minhas ruas e meus prédios e as janelas que assistia de binóculos e os meus mendigos e os meus pombos, se lembrarão de mim?
Não importa, me faço reconhecer, nem que seja abrindo os pulsos e banhando o asfalto de meu sangue para ver as ruas se encherem das luzes que tanto desesperam motoristas e que me fazem chorar - essas mesmas luzes - de saudade.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Muito lindo... vc escreveu isso sentindo cada detalhe descrito... isso é sentir saudade de verdade, né? Sinto o mesmo.

2:55 AM  

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